2018: ano de investir no transporte

Em 2018, o Brasil enfrentava um cenário decisivo, com grandes desafios econômicos e eleições marcantes. Foi nesse contexto que o transporte ganhou ainda mais destaque como peça-chave para o crescimento sustentável. Leia a entrevista com Clésio Andrade e entenda o contexto brasileiro na época.

O ano de 2018 foi um período crucial para o Brasil, marcado por desafios econômicos, eleições decisivas e a implementação de reformas estruturais. Em meio a esse cenário, o então presidente da CNT (Confederação Nacional do Transporte), Clésio Andrade, deu uma entrevista à Revista CNT Transporte Atual e destacou a importância de investir em infraestrutura de transporte como um caminho estratégico para a recuperação econômica do país.

Na época, o setor de transporte enfrentava os impactos da recessão, que afetaram tanto a geração de empregos quanto a competitividade nacional. Em sua visão, priorizar projetos essenciais de infraestrutura era fundamental não apenas para reduzir os custos logísticos no deslocamento de pessoas e mercadorias, mas também para impulsionar o crescimento sustentável do Brasil.

Essa entrevista, realizada em um momento histórico de decisões críticas, reforça a visão estratégica da CNT e serve como um ponto de partida para entender os desafios e os avanços que moldaram o transporte no Brasil ao longo dos últimos anos. Ela nos relembra que investir em infraestrutura não é apenas uma necessidade econômica, mas uma ferramenta poderosa para projetar um futuro mais competitivo e integrado para o país.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

Os indicadores mostram que o Brasil superou a forte recessão econômica sentida nos últimos quatro anos. O país voltou a crescer embora ainda de forma tímida. Quais são suas expectativas para 2018? 

O Brasil precisa voltar a crescer de forma vigorosa. Para isso, deve realizar fortes investimentos em infraestrutura para superar o atraso e avançar, abrindo os caminhos do desenvolvimento sustentável, com geração de empregos e renda para a população. O país registra uma defasagem de 40 anos em sua infraestrutura de transporte e logística, condição que restringe a produção de riquezas, tira competitividade das empresas, dificulta a distribuição de renda e atrasa o combate às desigualdades sociais, impedindo o pleno desenvolvimento das empresas e do país. Para investir mais, o Brasil precisa estimular os investidores estrangeiros, oferecendo segurança jurídica e condições atraentes de negócios. Por isso, a continuidade das reformas do Estado é tão importante. Essas são as condições mínimas para que o tímido crescimento econômico alcançado em 2017 se converta em um novo e duradouro ciclo de desenvolvimento sustentável. 

A Sondagem Expectativas Econômicas do Transportador, divulgada pela CNT em novembro do ano passado, mostra que as empresas de transporte adotaram um otimismo cauteloso para este ano. Estão pouco confiantes na gestão e na capacidade de investimento do governo? 

A recessão atingiu duramente o setor transportador. É natural que os transportadores estejam cautelosos em relação à economia. Em 2017, o setor começou a reagir. Os modais aquaviário e aeroviário apresentaram crescimento significativo. Mas os reflexos da recessão ainda são sentidos especialmente no transporte rodoviário, responsável pela maior parte do movimento de cargas e de passageiros em nosso país. A Sondagem mostrou que, no ano passado, 76,3% das empresas tiveram aumento no custo operacional, e 32,8% registraram queda de receita. Tudo isso tem a ver com a crise econômica e com a redução dos investimentos pú- blicos em infraestrutura. Até mesmo o modal predominante, o rodoviário, vem sofrendo decréscimo nos investimentos. Veja que, em 2011, ano de maior aporte de recursos públicos federais em infraestrutura de transporte rodoviário, foram investidos R$ 15,7 bilhões em valores reais. Em 2017, o setor recebeu apenas R$ 7,9 bilhões, e as projeções para 2018 são ainda mais preocupantes. Com os cortes no orçamento do Dnit, o modal rodoviário pode receber menos de R$ 5 bilhões. A consequência é a queda na qualidade das rodovias, como mostrou a Pesquisa CNT de Rodovias 2017. Os efeitos no desempenho das empresas de transporte são dramáticos.

Para se ter uma ideia, a má qualidade das rodovias eleva em 27% o custo operacional do transporte. Só o gasto desnecessário de óleo diesel gera um prejuízo de R$ 2,54 bilhões por ano. Essa é uma situação que está se agravando rapidamente devido à política de preços absurda adotada pela Petrobras, que está causando sérios prejuízos aos transportadores, desde julho do ano passado, quando os reajustes nos preços de combustíveis começaram a ser feitos aleatoriamente. Antes, os reajustes eram mensais. As empresas conseguiam se planejar. Agora, os preços estão variando, em média, a cada dois dias. Isso cria uma situação descontrolada na gestão dos custos das empresas de transporte. Estamos estudando medidas a serem tomadas para reverter essa política da Petrobras, que está afetando o planejamento e o relacionamento do setor com o mercado. Esse pode ser considerado um caso de agressão à ordem econômica do país já que toda a economia brasileira é afetada pelos custos do transporte rodoviário. São dados como esses que fazem os transportadores serem cautelosos em relação a 2018. 

Qual é a saída? 

Uma das saídas para o Brasil é aumentar os investimentos da iniciativa privada nacional e estrangeira em projetos de infraestrutura. Com demandas cada vez maiores em áreas de infraestrutura, como saúde, educação e desenvolvimento social, os recursos públicos nunca serão suficientes. Por isso, insistimos nas reformas da Previdência e Tributária, na desburocratização e na criação de um ambiente favorável ao investimento privado. A Reforma Trabalhista, o teto de gastos, a terceirização e a Reforma do Ensino Médio foram sinais importantes para o mercado. Aos poucos, os investidores estão voltando, mas esse é um movimento que não pode parar. O Brasil precisa completar o ciclo de modernização do Estado para conseguir crescer no ritmo das demandas da sociedade. 

Em 2018, o Brasil vai eleger o (a) novo (a) presidente da República, uma nova Câmara dos Deputados e parte do Senado. Essa já é considerada a eleição majoritária mais complexa das últimas décadas devido aos desafios econômicos e institucionais que o país terá que enfrentar nos próximos anos. Como o setor transportador vai se posicionar nesse cenário político? 

Vamos participar do debate apontando aos candidatos as necessidades de desenvolvimento do setor transportador. A sexta edição do Plano CNT de Transporte e Logística, que publicaremos em breve, será uma contribuição importante para os candidatos que quiserem se comprometer com políticas públicas de expansão e modernização da infraestrutura nacional. Além disso, esperamos que o país eleja um parlamento sério, comprometido e escolha o candidato a presidente que apresentar o projeto mais sólido e viável de desenvolvimento sustentável para o Brasil. Os eleitores não devem ceder à tentação de embarcar em aventuras e promessas milagrosas.

Que outros estudos e pesquisas a CNT está planejando para 2018? 

A CNT vai continuar oferecendo à sociedade uma gama de pesquisas, estudos, sondagens e boletins para orientar o setor transportador e subsidiar políticas públicas, como a Pesquisa CNT de Rodovias, que está chegando à sua 22ª edição. Este ano, como dito há pouco, publicaremos uma nova edição do Plano CNT de Transporte e Logística. Trata-se de um estudo de fôlego que aponta soluções para melhorar o desempenho e a integração dos sistemas de transporte do Brasil. O Plano indicará as obras de infraestrutura e os investimentos necessários para tirar o país do atraso. Também vamos lançar a primeira Pesquisa CNT do Perfil dos Transportadores Aquaviários e o novo Atlas do Transporte. 

Clique aqui para ler a segunda parte da entrevista.