Desde 2007, o Despoluir – Programa Ambiental do Transporte tem incentivado empresários, transportadores autônomos e taxistas a adotarem práticas ambientalmente responsáveis e a diminuírem os impactos do setor ao meio ambiente. Para isso, o projeto conta com o apoio das Federações estaduais, responsáveis por executar parte das ações do programa.
Em função do importante papel dessas entidades, a Agência CNT de Notícias inicia uma série de entrevistas com os presidentes das Federações parceiras do projeto. Nesta entrevista, o presidente da Federação das Empresas de Transportes Rodoviários do Estado do Rio Grande do Sul (Fetergs), Victorino Aldo Saccol, fala sobre a atuação no programa e sobre suas expectativas para os próximos anos.
Na sua opinião, que benefício a criação do Despoluir trouxe para o setor?
Aqui no Rio Grande do Sul, nós estamos desenvolvendo um trabalho de conscientização dos empresários de que o Despoluir é uma ferramenta que ele tem, de muito boa qualidade, para incentivar a melhoria da qualidade do ar e, ao mesmo tempo, ter uma economia financeira em relação ao consumo de combustível.
Com isso, o empresário começou a utilizar o Despoluir como indicador de qualidade de sua frota. Hoje, a cada aferição ele tem um relatório individual de cada veículo e sabe qual é o desempenho desse carro e em relação às últimas aferições. Com isso, ele pode dimensionar a frota até em termos de manutenção. Os empresários têm utilizado essa ferramenta e até têm nos cobrado para que as visitas sejam mais regulares.
Já solicitei mais um veículo [unidade móvel que realiza as aferições], justamente para isso. Nós estamos hoje com mais de 10 mil veículos cadastrados. Hoje conseguimos fazer duas aferições por ano[em cada veículo]. Com esse novo veículo serão três aferições, uma a cada quatro meses.
Houve mudança na relação da sua Federação com os órgãos de meio ambiente a partir da participação da sua entidade no Programa Despoluir? Quais foram essas mudanças?
Mudou muito. Nós temos um programa que é muito conceituado. O programa Fetergs/CNT é reconhecido pelos órgãos governamentais, principalmente, como uma ferramenta idônea. Nossos produtos são idôneos em relação ao poder público. Nós somos convidados a participar de programas ambientais. A região da Grande Porto Alegre, por exemplo, tem um programa de autofiscalização. O Ministério Público do Meio Ambiente quer que as empresas se autofiscalizem e aceitou o programa Despoluir como a ferramenta do empresário para isso.
Estamos finalizando também um convênio com o MP, visando a Copa do Mundo de 2014. Cada empresa é responsável pelos seus ônibus e ele [Ministério Público] aceita o nosso indicador como confiável. A própria região metropolitana, junto com o DAER [Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem], também está fazendo um convênio nesse sentido. Nós ficamos muito felizes porque é o trabalho reconhecido.
E junto à sociedade, o senhor percebeu mudanças? O programa é reconhecido?
A sociedade conhece muito pouco do programa ainda. Acho que a gente ainda peca um pouco nesse sentido. Precisaríamos ter cartilhas para distribuir. Falta uma sensibilização junto à sociedade.
Nós estamos chegando até o empresário, o poder público reconhece nosso programa. Mas o usuário final e a sociedade como um todo ainda não. Nós estamos participando de atividades junto à sociedade, mas ainda precisamos melhorar.
E com relação aos transportadores?
No começo, nós tínhamos uma série de restrições em algumas empresas que achavam que a gente era um órgão fiscalizador. Então se fez todo um trabalho de conscientização de que nós somos parceiros, que o relatório que ele recebe chega à empresa, à CNT, e ninguém mais. Isso mudou o conceito dos transportadores.
Mas nós estamos no caminho certo. É um belo programa e agora com esse novo equipamento vamos conseguir atendê-los melhor ainda.
Levando-se em conta a importância da sustentabilidade, o senhor percebe se há mudança positiva de atitude dos transportadores atendidos pelo Despoluir com relação ao tema (maior consciência sobre a importância do meio ambiente, sobre cidadania, impactos da atividade)?
Sinceramente, acredito que este é o começo. Ainda temos muito o que fazer. Existe uma semente plantada, que ainda é muito frágil. Existe a preocupação, mas esse ainda é o primeiro investimento a ser cortado na hora da crise.
O Programa mudou a forma de atuação da Federação? Poderia nos dar alguns exemplos?
Com o Despoluir, a federação ficou mais próxima do empresário e a Confederação também ficou mais próxima dele. Acaba tendo um efeito cascata. O presidente da Federação tinha antes um maior contato com os presidentes dos sindicatos. Hoje, a nossa federação está um pouco mais próxima do empresário final.
A Fetergs tem um programa de cursos e workshops em diversas áreas, então nós também estamos tentando unir os profissionais – gerentes de operação, de tráfego. O Despoluir ajudou bastante com a parte operacional, mas também há uma preocupação da Federação em trazer o empresário mais próximo e, como conseqüência, da CNT também.
Sabemos que sua base de atuação reúne muitos transportadores. Que mensagem o senhor pode deixar aos que já são atendidos e aos que ainda não participam do Despoluir?
A preocupação socioambiental já faz parte do nosso negócio, embora muitos empresários ainda não enxerguem isso. Mas tanto a preocupação com o Meio Ambiente quanto com a sociedade como um todo tem que fazer parte da nossa carteira como custo, como operação, como pessoas e como processos. Nós ainda não nos dedicamos muito a isso, mas é o nosso desafio para os próximos anos.
Quais são suas expectativas e planos para os próximos anos do Despoluir?
Estou muito confiante nos outros passos do programa Despoluir, principalmente com relação às garagens. Os empresários ainda têm garagens acanhadas, sem ter uma preocupação muito grande na parte de meio ambiente e os riscos são muito grandes, principalmente, para o solo.
Aqui no Rio Grande do Sul temos o Prêmio Despoluir/Fetergs, onde são premiadas três pequenas e médias e três grandes empresas que tiveram o melhor desempenho no ano. Eu ainda sonho com isso nacionalmente, que a gente possa ter um prêmio nacional.
E, principalmente, a terceira fase do programa que é a certificação ISO 14000 para a maioria dos empresários. Essa certificação é importantíssima, porque mostraria para o público nossa preocupação com o meio ambiente. São essas as três metas para os próximos anos e nós estamos lutando muito para que elas aconteçam.
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Fonte: Agência CNT de Notícias