Por Luis Antonio Lindau*
Cerca de 80% de toda riqueza gerada no mundo provém das cidades[1], o que atrai, anualmente, milhões de pessoas em busca de oportunidades. Já somos 3,9 bilhões vivendo em centros urbanos e, em 2050, seremos 9,6 bilhões. Porém, a falta de planejamento tem custado caro para indivíduos, governos e ao Planeta. As cidades consomem dois terços da energia global e são responsáveis por mais de 70% das emissões de CO2. Não por acaso a busca por cidades sustentáveis aparece como um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)[2], apresentados pela Organização das Nações Unidas. Com um conjunto de 169 metas, a agenda global tem o objetivo de acabar com a pobreza extrema, a desigualdade e injustiça, e controlar os impactos das mudanças climáticas até 2030.
Os 193 países-membros da ONU estão comprometidos a tornar suas cidades inclusivas, seguras, resilientes e sustentáveis. Também outros acordos reiteram a posição, como o Compact of Mayors. Durante a COP 21, realizada em dezembro em Paris, a maior coalizão de prefeitos voltada para as mudanças climáticas anunciou o impacto agregado da iniciativa: os 400 compromissos firmados pelos líderes municipais até agora têm o potencial de contribuir para 50% da redução dos gases de efeito estufa no mundo até 2020[3]. E o transporte é um fator-chave para a mudança de direção.
A infraestrutura de transportes direciona e determina a estrutura espacial das cidades. Integrando transportes ao planejamento do uso do solo é possível acomodar o crescimento sem expandir a área urbana. Invariavelmente, cidades espraiadas não apresentam padrões que possam ser considerados sustentáveis. Copenhague, por exemplo, tem uma densidade populacional 4,8 vezes maior que a de Houston (EUA) e uma emissão anual per capita de 4,7 tCO2, enquanto a da cidade americana é de 14,1 tCO2[4].
Na medida em que é impossível prescrever ações universais para alcançar uma mobilidade sustentável, cada centro urbano precisa conhecer muito bem sua realidade quando procura transferir as melhores práticas internacionais. Uma estratégia adequada segue os preceitos do Avoid-Shift-Improve[5] (Evitar-Mudar-Melhorar), um balanço entre sanções e recompensas que busca sucessos no curto prazo enquanto mira em horizontes mais longos. Algumas ações podem melhorar a qualidade em termos de emissões de gases de efeito estufa, segurança viária e eficiência dos sistemas de transportes. Outras buscam induzir a troca do automóvel por modos mais sustentáveis, como caminhada, bicicleta e transporte coletivo. No entanto, as iniciativas mais sustentáveis são aquelas que miram no longo prazo e que evitam a necessidade de deslocamentos, ao mesmo tempo em que satisfazem as necessidades da população. Entre estas, destaca-se o DOTS (Desenvolvimento Orientado ao Transporte Sustentável), modelo de planejamento urbano orientado para as pessoas e estruturado por meio do transporte coletivo e não motorizado[6]. A prioridade a sistemas de transporte coletivo comprovadamente reduz mortes no trânsito. Ahmedabad, na Índia, e Bogotá, na Colômbia, reduziram em 55% e 48%, respectivamente, o número de vítimas fatais ao longo de corredores após a introdução de seus sistemas BRT[7].
Nenhuma mudança efetiva, porém, é alcançada sem a força da participação da sociedade, que conhece as necessidades locais. Isso reforça a importância do engajamento das comunidades na formulação de seus planos de mobilidade. Também o setor privado deve abraçar parte da responsabilidade, uma vez que é responsável por 50% dos deslocamentos diários nos centros urbanos[8].
[1] 2014.
2014.newclimateeconomy.report/cities/
[2]
nacoesunidas.org/pos2015/agenda2030
[3] Climate Leadership at the Local Level: Global Impact of the Compact of Mayors (2015). Disponível em:
bit.ly/1IFc7Mh
[4] Laconte, P., Urban and Transport Management – International Trends and Practices, in International Symposium “Sustainable Urban Transport and City. 2005, Tongji University and Nagoya University: Shanghai, carfreeinbigd.com, chron.com/the highwayman, ec.Europa.eu for emissions for Copenhagen, World Bank for emissions for Houston.
[5] Dalkmann H; Brannigan C. (2007). Transport and Climate Change. Deutsche Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit (GTZ), Germany.
[6] DOTS Cidades – Manual de Desenvolvimento Urbano Orientado ao Transporte Sustentável (EMBARQ Brasil, 2014). Disponível em:
d.pr/f/ZoGY
[7] Segurança Viária em Sistemas Prioritários para Ônibus (EMBARQ, 2014). Disponível em:
d.pr/f/S5P1
[8] Passo a Passo para a Construção de um Plano de Mobilidade Corporativo (EMBARQ Brasil, 2015). Disponível em:
d.pr/f/1ioEz
*Artigo publicado na Revista NTU Urbano – Edição Novembro / Dezembro 2015.