Erica Marcos Gerente Executiva Ambiental da CNT (Confederação Nacional do Transporte).
A frota de caminhões brasileiros tem forte influência sobre o meio ambiente, a qualidade do ar, a saúde pública, a segurança rodoviária, a mobilidade urbana, os custos operacionais e a logística brasileira.
Apesar de o transporte rodoviário desempenhar um papel de grande relevância no desenvolvimento econômico, sendo responsável por mais de 60% da distribuição de cargas do país, a idade da frota nacional de caminhões é preocupante, chegando a 30 anos em 26% dos veículos desse tipo em circulação. Além disso, mais da metade dos que estão em operação possui tecnologias embarcadas defasadas em mais de uma década. Veículos antigos podem trazer problemas à atividade transportadora, como insegurança no trânsito e mais custos de manutenção, ineficiência energética e poluição atmosférica.
Devido a essa conjuntura, é imprescindível realizar o levantamento de cenários que tragam respostas efetivas para a implementação de uma estratégia de renovação da frota de caminhões que seja embasada em fundamentos técnicos. Por meio de análises de indicadores ambientais e econômicos, é possível obter maior aprofundamento técnico para embasar o desenvolvimento de planos sustentáveis para o setor, para a economia e a sociedade.
Os ganhos ambientais oriundos da renovação de frota são imprescindíveis. Os benefícios ambientais não se limitam apenas à redução de poluentes mediante a retirada dos caminhões mais poluidores de circulação, mas também se estendem à reciclagem automotiva, que pode contribuir sobremaneira com demais setores do país, como os centros de desmontagem, as recicladoras, a indústria mineral e demais cadeias produtivas no contexto da economia circular.
O potencial de ganho ambiental com a utilização de veículos mais novos é fundamental para obtermos a melhoria da qualidade do ar pretendida. Para se ter uma dimensão do potencial da renovação de frota, caminhões com tecnologias mais recentes, fabricados a partir de 2022, reduzem, em média, 95% das emissões de gases poluentes na atmosfera em comparação com os veículos fabricados nas décadas de 1980 e 1990. Além disso, eles têm a capacidade de diminuir em 98% a emissão de material particulado, responsável pela fumaça preta causadora de doenças respiratórias — em contraste com veículos mais antigos. Contudo, apesar dessas vantagens, eles correspondem a, apenas, 4,9% da frota nacional em circulação no país.
O maior desafio reside no aspecto econômico. O investimento necessário para modernizar a frota de veículos pesados alinhados aos padrões ambientais mais recentes é elevado. Um caminhão pode custar mais de R$ 1,2 milhão, sem considerar seus implementos. A aquisição de um veículo pesado com tecnologia embacada mais recente gera a imobilização de grande capital direcionado a um único bem. Para amenizar este impacto, é necessário tornar os programas vigentes de renovação de frota como o Renovar e o Mover mais inclusivos, contemplando grandes frotistas, de modo que o mercado seja estruturado e vantajoso a todos os segmentos, tornando as empresas de grande porte também elegíveis a incentivos financeiros e fiscais.
Outro ponto fundamental neste tema é a questão dos incentivos invertidos. Atualmente, os proprietários dos caminhões mais antigos pagam menos IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores) do que veículos mais novos, sendo que, a depender do estado, os veículos podem ser, inclusive, isentos do imposto após 10 anos de uso. Em um cenário ideal, os caminhões mais limpos deveriam ser beneficiados com uma menor carga de impostos.
Sob todo o exposto, fica o importante alerta sobre a necessidade do desenvolvimento de políticas públicas mais inclusivas, considerando não só os empresários de pequeno porte, mas, também, os grandes frotistas. É, ainda, necessário corrigir os movimentos indutores da renovação de frota no país, de modo que os incentivos beneficiem as tecnologias mais modernas em relação às demais, que são poluidoras e defasadas.