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Canal de Istambul, projeto da Turquia para ligar Europa e Ásia

02/07/2021

Obra de 45 quilômetros abre uma nova rota navegável entre o Mar Negro e o Mar de Mármara



​A Turquia inaugurou no em junho as obras de construção do Canal de Istambul, uma infraestrutura de 45 quilômetros que liga artificialmente a Europa e a Ásia pela primeira vez na história e abre uma nova rota navegável entre o Mar Negro e o Mar de Mármara. A obra é descrita pelo próprio presidente do país, Recip Tayip Erdogan, como um "projeto maluco". Desde 2011, quando Erdogan (que era primeiro-ministro na época) apresentou o projeto, esse ambicioso plano inspirado nos canais do Panamá e Suez e que corre paralelamente ao Estreito de Bósforo, vem avançando. As obras devem durar sete anos, segundo a imprensa local. O projeto está longe de ser consenso na Turquia, com críticas sobre suas possíveis repercussões sociais, econômicas e ambientais.

Como é o projeto?

O vão entre os continentes criado pelo projeto transformará Istambul — que com mais de 12 milhões de habitantes é a maior cidade da Turquia — pelo menos tecnicamente, em uma ilha. A nova via marítima terá 25 metros de profundidade e 250 a mil metros de largura, dependendo dos trechos. O canal percorrerá na direção sul-nordeste através do chamado corredor Küçükçekmece-Sazlıdere-Durusu. Parte da rota passará pelo Lago Küçükçekmece, perto do Mar de Mármara, desaguando no Mar Negro através da Barragem Sazlıdere. O governo turco defende seu projeto argumentando que servirá para aliviar o tráfego de navios no Bósforo, uma das rotas marítimas naturais mais estreitas e movimentadas do mundo. O canal será construído a um custo de mais de US$ 8 bilhões, segundo as autoridades, e permitirá a passagem diária de 185 navios, contra 118 a 125 que cruzam o Bósforo hoje. "O principal objetivo deste projeto é reduzir os riscos decorrentes da passagem de navios carregados com materiais perigosos pelo Bósforo", informou o Ministério dos Transportes turco em 2018, quando apresentou o traçado final do canal.

Segundo governo turco, novo canal reduziria risco de navios que transportam mercadorias perigosas passarem pela frente da cidade. Em 2016, cerca de 42 mil navios viajaram na única hidrovia natural entre a Europa e a Ásia. No mesmo período, 16,8 mil navios cruzaram o Canal do Panamá e um número semelhante navegou pelo Canal de Suez. O Bósforo — com 30 km de comprimento e largura que varia entre 750 metros 3,7 km — é a única saída do Mar Negro para países como Romênia, Bulgária, Ucrânia, Geórgia e os portos do sul da Rússia. Em suas margens, estão planejadas áreas residenciais e serviços que irão estender a cidade de Istambul a oeste.  

Alguns cientistas alertaram para os riscos que a alteração do nível de salinidade das águas pode representar para os ecossistemas costeiros do Mar Negro e do Mar de Mármara — muito mais salgados — em consequência da abertura de um canal. "Existem duas correntes no Bósforo. É como quando a água e o azeite se separam. No fundo do Bósforo existe uma corrente (mais densa) na direção norte, do Mediterrâneo em direção ao Mar Negro, e na superfície outra rumo ao sul", disse Cemal Saydam, professor de Engenharia Ambiental da Universidade Hacettepe em Ancara, à revista National Geographic. "Se você decidir unir os dois mares, você não pode estar pensando apenas nos próximos cinco ou dez anos, ou nas próximas eleições, ou no aniversário da república turca. Você tem que pensar em termos de tempo geológico, porque uma vez que você fizer isso, não há mais volta." 

Fonte : BBC Brasil